Daki Semiárido Vivo
“Estamos mais vivos, mais fortes, mais conectados aos nossos Semiáridos”, DAKI – Semiárido Vivo finaliza com partilha de experiências
Participantes do projeto do Semiárido Brasileiro, do Gran Chaco Americano e do Corredor Seco Centro-Americano estiveram reunidos/as para celebrar os resultados de dois anos de atividades
por Sara Brito – Assessoria de Comunicação da ASA
O seminário final do projeto DAKI – Semiárido Vivo aconteceu da mesma forma que o projeto: com muitas trocas de experiências e partilha de conhecimentos. O evento aconteceu nos dias 12 e 13 de dezembro, com a presença de pessoas que, ao longo dos últimos dois anos, participaram das atividades do projeto em três regiões semiáridas da América Latina: o Semiárido Brasileiro, o Gran Chaco Americano e o Corredor Seco Centro-Americano.
“O DAKI – Semiárido Vivo é um projeto que tem como principal objetivo o enfrentamento às mudanças climáticas a partir de sistematizações, formações e intercâmbios entre técnicos e técnicas, agricultoras e agricultores dessas três regiões semiáridas da América Latina”, afirmou Júlia Rosas, coordenadora pedagógica do DAKI. Pautado na gestão do conhecimento e na cooperação Sul-Sul, o DAKI é apoiado pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e realizado por duas redes de organizações da sociedade civil que atuam nessas regiões: a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e a Plataforma Semiáridos da América Latina.
Os dois dias do seminário foram recheados com depoimentos e falas sobre as vivências durante o projeto. “Esse curso DAKI foi muito importante para todos nós. Para agricultoras, para comunidades indígenas, quilombolas como eu… A gente agradece muito por essa oportunidade de poder participar, de trocar conhecimentos, de ouvir, de escutar as pessoas que escutamos”, disse a agricultora Maria da Guia dos Santos, do estado da Paraíba, no Semiárido Brasileiro. Ela reforçou também as diferenças que percebeu no território que visitou durante o intercâmbio na Argentina. “Algumas comunidades indígenas não podem ter cisternas porque não tem casas, então é feita uma adaptação”, observa ela.
“Há pilares fundamentais que podemos observar dentro dos diferentes intercâmbios de experiências, como a defesa do território, segurança e soberania alimentar e a conservação e recuperação de sementes nativas”, pontuou Luis Naobil, da região do Corredor Seco Centro-Americano. “E foi uma experiência muito integral. A partir da arte, da música, da dança, se segue recuperando as culturas milenares, se segue fazendo agroecologia, se segue resistindo frente a imposição de modelos econômicos”, afirmou.
Ao longo do projeto DAKI, foram realizados três programas de formação com aulas online e sete intercâmbios presenciais que aconteceram nas regiões semiáridas entre 2022 e 2023. Micaela Leguizamón, de Santiago De Estero, no Gran Chaco argentino, participou de intercâmbio no Brasil e falou no seminário final do projeto DAKI sobre o que mais a impactou nessa experiência. “Ver as cisternas foi algo que me impactou muito e para o nosso lugar foi algo muito importante e fundamental. Através da organização puderam chegar ao nosso território as cisternas familiares. Foi muito lindo poder tê-las porque onde estamos tem muita falta de água, e com a mudança climática cada vez mais”, afirmou ela.
Micaela também destacou as práticas de reúso de água na agricultura, como uma das estratégias para lidar com a escassez hídrica. “Outra coisa que também me impactou nessa experiência foi ver como utilizam a água de uso cotidiano na produção agroecológica, esta prática seria muito proveitosa se difundida em todas as regiões, para melhor aproveitamento desse líquido vital”, destacou Micaela.
Para o DAKI – Semiárido Vivo, o caminho para o enfrentamento às mudanças climáticas é conhecer o que já tem sido pensado e colocado em prática por agricultoras/es, comunidades, territórios, organizações técnicas e da sociedade civil e pelo Estado no campo da Agricultura Resiliente ao Clima. Trata-se de reconhecer e valorizar o conhecimento das populações dos semiáridos para um desenvolvimento harmonioso e o enfrentamento da crise climática.
O projeto DAKI realizou três Programas de Formação em Agricultura Resiliente ao Clima, com 1.502 participantes no total; organizou uma biblioteca com 227 experiências e sistematizou 55 experiências de Agricultura Resiliente ao Clima. A diversidade de experiências que o DAKI mobilizou ficou explícita no seminário final do projeto, como destacou Carlos Magno de Medeiros, da Plataforma Semiáridos. “Eu acho que essa é a grande riqueza que a gente tem aqui. Porque quando a gente sistematiza as experiências, a gente dá vida a elas. A gente sai desse lugar que é sempre dito que é de pobreza, de miséria, de ignorância, de pessoas que não tem capacidade, e a gente traz e mostra que na verdade as pessoas estão fazendo algo diferente, e elas estão contando sua própria história”, afirmou Carlos. “Acho que a sistematização é como se fosse a cereja do bolo desse processo do DAKI, ela ilumina os semiáridos pra dizer que nesse lugar tem vida, tem dignidade, e nesse lugar se constroi soluções para lidar com as mudanças climáticas.”
O semiárido final do projeto DAKI – Semiárido Vivo contemplou a discussão de temas transversais à atuação dos povos dos Semiáridos, como tecnologias sociais, povos indígenas e comunidades tradicionais, mulheres e juventudes. Este último foi tema do terceiro Programa de Formação do projeto, que envolveu jovens dos três Semiáridos em oficinas temáticas virtuais, intercâmbios e encontro de saberes. “Esse processo de formação e intercâmbios foi fundamental para o fortalecimento das juventudes. Lá a gente pode visitar agricultores, organizações, espaços educacionais… e em todos eles a gente pode ver que a juventude está sendo protagonista”, contou o jovem Guilherme Delmondes, do estado de Pernambuco, no Semiárido brasileiro. “E o DAKI não termina por aqui, ele deixou diversos frutos, como por exemplo a criação e o fortalecimento de redes por todos os semiáridos”, completou.
Para Glória Batista, da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), o seminário final do projeto DAKI – Semiárido Vivo não foi um momento de encerramento, mas de olhar para frente. “O que a gente construiu até aqui foi algo ousado, inovador e bastante importante para os povos dos semiáridos da América Latina. E temos que continuar sendo ousados”, afirmou. “Apesar de serem territórios ou semiáridos diferentes, nós temos também muita coisa em comum. Temos também a construção de uma identidade, a identidade da esperança, da transformação, a identidade do enfrentamento ao que nos ameaça e ao que nos aflige”, concluiu Glória.
As sistematizações, publicações e vídeos do projeto DAKI podem ser acessados no site do projeto e na Biblioteca Semiáridos da América Latina, que tem materiais em português e espanhol. Mas os resultados do projeto no Semiárido Brasileiro, no Gran Chaco Americano e no Corredor Seco Centro-Americano vão além do que se pode tocar. Como trouxe no seminário Micaela Leguizamón: “Estamos mais vivos, mais fortes, mais conectados às nossas terras, à água, ao nosso bem comum, às nossas culturas e tradições. E, sobretudo, aos nossos Semiáridos.”
Saiba mais
Biblioteca SAL (Biblioteca Semiáridos da América Latina) – https://bibliotecasemiaridos.ufv.br/