Daki Semiárido Vivo
Agroecologia e sustentabilidade em comunidade quilombola no Semiárido brasileiro
Por Adriana Amâncio
A comunidade quilombola Feijão e Posse, localizada no município de Mirandiba, na parte semiárida do estado de Pernambuco, tem ampliado a sua capacidade produtiva a partir de várias tecnologias de convivência com o clima e a região e também da gestão coletiva das tecnologias e do bioma. Desde 1995, quando criaram a associação comunitária, as cerca de 60 famílias conquistaram tecnologias de energia solar, hídricas, quintais produtivos, hortas comunitárias e unidades de beneficiamento, fogões agroecológicos e iniciaram a coleta e tratamento do lixo.
Segundo a professora e uma das lideranças locais, Mazé Souza, não era comum nas refeições terem verdura, cenoura, batata, couve e repolho. Após o acesso às tecnologias de armazenamento de água, a comunidade “passou a se alimentar melhor”. Algum tempo depois, passaram a comercializar a produção em feiras agroecológicas e também acessaram o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), políticas públicas de compra governamental da produção agrícola para distribuição.
Grande parte desses resultados é fruto de práticas ambientais que construíram uma relação harmônica entre a comunidade e o bioma Caatinga. “Frutíferas da Caatinga, como o Umbuzeiro, a gente já preserva mais, porque antes a gente tirava a cafofa, que é a raiz que armazena água. E a gente retirava ela para fazer cocada. Hoje, a gente não utiliza mais, porque, na época de seca, ela [a árvore] vai sobreviver daqueles reservatórios de água. A quantidade de pássaro que você não via, hoje, você vê, porque tem mais água perto,” elenca Mazé.
Com o fogão agroecológico, a comunidade também deixou de caminhar léguas para retirar madeira para cozinhar, pois a tecnologia funciona com gravetos de plantas mortas e até bagaço de coco.
Após adquirir um trator, os/as jovens da comunidade adotaram a coleta de resíduos, a reciclagem – que se tornou mais uma fonte de renda – e o tratamento do lixo.
Em 2012, as mulheres da comunidade produziram e plantaram cerca de 5 mil mudas nativas, a exemplo do Pereiro, Angico, Umbu, entre outras, com foco na reconstrução do bioma.
Mazé enfatizou que o sistema agroecológico, junto aos cuidados de higiene, favoreceram a proteção da comunidade durante a pandemia. Dentre os/as 300 moradores/as, até o momento, não foi registrado nenhum caso de Covid-19. Ela sabe que a alimentação saudável e diversificada, livre de agrotóxicos, fortalece a imunidade das famílias locais.
Edição: Verônica Pragana