Daki Semiárido Vivo
A Identidade do Jovem no Semiárido
Legenda: Jovens latino-americanos se unem na mesma luta para combater a crise climática.
No primeiro encontro do 3º Programa de Formação em Agricultura Resiliente ao Clima – DAKI Juventudes foi feita a apresentação geral do Programa e de experiências oriundas das três regiões semiáridas da América Latina protagonizadas por jovens. Em seguida, foram realizados trabalhos em grupo onde foram discutidos:
- Que estratégias podemos pensar para fortalecer as identidades da juventude rural?
- Como isso pode ser feito em nosso território?
Experiências
Raices Chaqueñas (Argentina e Bolivia)
Depois de uma série de programas que foram desenvolvidos em busca da defesa e promoção dos povos indígenas do Chaco Trinacional, em 2019, foi realizado o primeiro Encontro de Jovens Rurais do Norte da Argentina como um espaço para que os jovens se encontrem, conheçam e se protejam.
Em 2020, teve início a etapa de desenho do programa de formação integral para jovens do Gran Chaco na Argentina e na Bolívia. Desta forma, o Programa Raíces Chacoñas começa com o objetivo de fomentar conhecimentos, habilidades e práticas e promover a gestão juvenil em organizações comunitárias. Nele foram abordados temas como: gestores locais, saúde sexual e reprodutiva, meio ambiente, participação comunitária, empreendedorismo-emprego e tecnologia da informação e comunicação.
Ao participar dessa experiência, os jovens reconheceram que conhecem melhor seus territórios e seus direitos como jovens e que puderam participar de diferentes e novos espaços, ampliar seus conhecimentos e liderar processos locais, reconhecendo problemas e propondo mudanças.
´Levante-se e seja ouvido´
“Foi muito importante para nós jovens, porque nos ajudou pessoalmente e também para a gestão local e internacional onde nos propomos a melhorar nossa qualidade de vida, por meio de políticas públicas que gerimos através de nossas organizações. O processo deu-nos muito conhecimento, como nos posicionarmos e darmos a nossa opinião, para sermos ouvidos e fazer valer os nossos direitos. Esperamos poder replicar, multiplicar e oferecer nosso conhecimento a outros jovens.”
Maria Luz Godoy (Santa Fé – Argentina)
San Lucas Tolimán (Guatemala)
Naobil Xep, do Centro Campesino del Altiplano, compartilha uma série de diálogos que realizou com os jovens, onde se discutiu a importância de conhecer a própria história e a identidade de cada cidade. Sem esses processos, a identidade cultural se perde com o passar do tempo, por exemplo: “em nossos diálogos havia jovens que não conheciam seus descendentes e essas questões nos ajudam a nos identificar e a partir disso nos sentimos parte das lutas das comunidades ”.
Os jovens começam a se identificar e a participar dos processos que acontecem em seus territórios. Nos diálogos trabalharam o Bem Viver e seus diferentes conceitos: Mãe Terra, agroecologia, soberania alimentar e seus princípios norteadores (solidariedade, participação cidadã, equidade, transparência, sustentabilidade, integralidade e descentralização).
´Identificar faz parte da resistência´
“Identificar-se faz parte da resistência contra um Estado que não reconhece, respeita ou estigmatiza nossa identidade cultural. Reconhecer-se e identificar-se é também reivindicar-se e não deixar perder esta identidade e cultura milenar”
Naobil Xep (Guatemala)
Grupo de jovens da Comunidade Sítio Coqueiro, Assentamento Maceió, Itapipoca, Ceará, (Brasil)
A Comunidade Sítio Coqueiro possui três grupos de jovens: um de cunho religioso, que se organiza a partir da Pastoral da Juventude da igreja católica; o Balanço do Coqueiro, grupo artístico; e um terceiro grupo de beneficiamento do coco, que produz óleo, farinha, sabonete e coco ralado.
A organização da juventude na comunidade foi potencializada por um trabalho de assessoria técnica do Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador e a Trabalhadora (CETRA). Em 2011, a organização tomou como uma de suas linhas de trabalho a juventude e passou a incentivar projetos com este viés.
Regilane, jovem do assentamento e que apresentou a experiência conta que a partir daí, eles, jovens, passaram a participar de oficinas e intercâmbios num processo de descoberta e afirmação da identidade de jovens agricultores:
“Naquele momento as juventudes tinham vergonha de se identificarem como jovens do campo. E nestes projetos nós passamos a olhar para a comunidade com outra perspectiva. Não só com o olhar do atraso, que não demos certo na vida. A gente passa a olhar para a nossa comunidade como um lugar onde podemos viver e viver bem a partir do que ela nos dá. Hoje eu me apresento como Regilane, agricultora, filha de agricultores assentados da reforma agrária”.
Regilane, comunidade Sítio Coqueiro
Daniela Savid