Daki Semiárido Vivo
Conheça três técnicas de gestão da água das e dos agricultores latinoamericanos
Os agricultores das regiões semiáridas da América Latina são desafiados a liberarem sua criatividade e inovação e otimizar ao máximo os recursos hídricos. Diante da seca enfrentada pelos territórios semiáridos do Grande Chaco Americano, do Semiárido brasileiro e do Corredor Seco Centroamericano, as técnicas de economia de água são uma alternativa que auxilia os agricultores na produção de seus alimentos, tanto no inverno quanto no verão.
1. Reúso de água no Semiárido brasileiro.
Por meio do sistema de reúso de água, batizado de Água Viva, é possível dar uma segunda chance a esse líquido vital. Por meio de uma fossa séptica filtrada, a água das pias e banheiros, que antes era desperdiçadas, podem ser reaproveitadas para irrigação de lavouras. Nesta tecnologia,, é utilizado um sistema de filtração de água para eliminar resíduos de alimentos, óleos e outros tipos de elementos não desejados.
Uma das grandes vantagens deste sistema de filtração é que a água obtida possui altas propriedades orgânicas, o que favorece o crescimento ideal das culturas.
Com base na experiência de formação para apropriação da tecnologia da Água Viva no Assentamento Palmares (liderada por mulheres brasileiras e sistematizada pelo projeto DAKI – Semiárido Vivo), podem ser apontados os seguintes elementos necessários para a execução desse sistema:
- Depósito de gordura ou by-pass: através deste dispositivo, toda a água que se utiliza na casa é canalizada por meio de uma obra de canalização.
- Fossa séptica: este tipo de fossa permite a retenção de resíduos de gordura que possam encontrar-se na água que passou pelo depósito de gordura. Para uma melhor sedimentação dos sólidos, o tanque é dividido em duas câmaras.
- Filtro: Este dispositivo permite minimizar os odores da água e alterar as suas propriedades químicas.
- Tanque final: este dispositivo armazena a água que será utilizada para irrigação. Recomenda-se a irrigação por gotejamento para ajudar a depositar a água diretamente nas raízes das plantas.
2. Reservatórios de água na região da América Central
O reservatório de água consiste em um sistema para armazenar o líquido vital e facilitar a irrigação das plantas. As pessoas que fazem uso desta técnica podem realizar as irrigações por gotejamento e otimizar o recurso ao máximo durante vários dias.
Uma das grandes vantagens da irrigação por gotejamento é que ela evita perdas de água e aproveita ao máximo o escoamento das águas pluviais. Além disso, por meio deste tipo de irrigação é possível semear em terrenos pedregosos e salinos. Ele também permite garantir água para a criação de gado.
Um dos grandes feitos da Organização de Mulheres Progressistas da Guatemala foi a construção de um reservatório comunitário, que permitiu que as mulheres da comunidade tivessem acesso à água para irrigar suas plantações e produzir alimentos para suas famílias. Essa conquista foi alcançada graças às ações organizacionais delas e à extrema necessidade que a comunidade tinha de conseguir água; já que o líquido vital chegava à comunidade apenas uma vez por mês por meio do sistema de abastecimento.
O reservatório é constituído por uma estrutura retangular, construída em pedra e taipa com dimensões de 3 metros de profundidade, 12 metros de largura e 15 metros de comprimento. Essa estrutura é cercada por pneus de carros para poder ser inserida no solo e armazena aproximadamente 442.000 litros de água da chuva.
O reservatório permite a criação de tilápia e a irrigação de hortaliças nos meses de janeiro a abril. Depois disso, a estrutura é limpa e a captação de água é retomada a partir de maio, mês em que está previsto o início das chuvas.
3. Cisternas e captação de água da chuva no Chaco
Em regiões semiáridas como o Grande Chaco Americano, é comum que o clima ocorra em duas grandes fases: uma estação do ano extremamente seca e com escassez de água; e outra parte do ano com chuvas abundantes.
Para aproveitar o momento de abundância, algumas comunidades do Chaco optam por armazenar a água da chuva e reservá-la para as estações secas. Com base na experiência da Mesa de Agua na Argentina, pode-se constatar que, para captar a água da chuva, é necessário adaptar um telhado com desenho inclinado, com tecido de nylon e mosquiteiro para filtrar a água. Da mesma forma, um sistema de calhas e tubulações permite que o líquido seja encaminhado para as cisternas e armazenado por um longo tempo.
Por meio do sistema de cisternas, os produtores podem armazenar água por mais tempo. Além disso, é possível aumentar a pressão e a água é mais facilmente empurrada para dentro dos canos.
Ressalta-se que a experiência da Mesa de Água não se limita a tecnologia de armazenamento de água, é também uma forma de organização social, que tem permitido o envolvimento de muitos atores-chave da comunidade. Uma luta comum para resolver o mesmo problema e um diálogo coletivo para encontrar soluções adequadas para o benefício de todos.
Conheça mais experiências sobre economia de água e agricultura resiliente ao clima na Biblioteca DAKI
A atual iniciativa DAKI – Semiárido Vivo, ação em rede mobilizada pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e pela Plataforma Semiáridos da América Latina, fortalece uma comunidade latinoamericana para a valorização, produção e troca de conhecimento dos povos dos semiáridos.
Ao sistematizar e compartilhar as experiências em andamento nas três regiões, bem como gerar processos de capacitação para milhares de pessoas (estudantes, agricultores e técnicos), se está gerando e fortalecendo processos para a construção de economias e agriculturas resilientes nas respectivas regiões semiáridas.
O projeto selecionou experiências de agricultores resilientes ao clima de três regiões semiáridas da América Latina (o Corredor Seco da América Central, o Grande Chaco americano e o Semiárido brasileiro).
Os materiais estão disponíveis na biblioteca em nosso site.