Sertão do Sobral (CE) recebe o intercâmbio entre agricultoras/es do projeto DAKI – Semiárido Vivo

“Estamos preparando nosso povo para as mudanças climáticas que já estão sendo sentidas!”, afirmou Andrea Sousa, da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), durante a mesa de abertura do intercâmbio entre agricultoras/es promovido pelo projeto DAKI – Semiárido Vivo.

A atividade, que acontece no Sertão de Sobral – Ceará, de 11 a 15 de setembro, é a última de uma série de cinco encontros que fazem parte do 2º Programa de Formação em Agricultura Resiliente ao Clima. O primeiro dia do intercâmbio aconteceu na sede da EMBRAPA – Caprinos e Ovinos, que vem experimentando soluções climáticas para a agricultura familiar. 

“A EMBRAPA está neste momento realizando um trabalho semelhante com que vocês fazem no campo da convivência com Semiárido e das mudanças climáticas. Neste sentido, estamos permitindo um olhar para a produção de alimentos realizado pelas mulheres. Também estamos fazendo de tudo para nos aproximarmos da juventude, para termos um olhar voltado para sucessão rural”, explicou Lisiane Dorlles, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Caprinos e Ovinos. 

Na sede da instituição, as e os 31 participantes puderam conhecer o Sistema Agroflorestal em faixas e o manejo da Caatinga conjugado com criação de animais. Durante a semana, conhecerão outras experiências de convivência com o Semiárido. 

A programação conta com visita à comunidades de agricultoras/es com experiências em manejo de sementes, recaatingamento e acesso e reúso de água. Além disso, as e os intercambistas poderão conhecer quintais produtivos, associações de apicultura, e propostas inovadoras de comercialização da produção familiar e agroecológica, como uma agroindústria familiar de cajuína.

De agricultor/a para agritultor/a

“É perceptível que lá atrás na década de 70 tínhamos um clima, hoje com o avanço das mudanças climáticas temos outra realidade. Precisamos usar a tecnologia a nosso favor, para assim termos a convivência com o Semiárido”, defendeu Erinaldo Lima, agricultor, vice-presidente da Fetraece e coordenador do Fórum Cearense Pela Vida no Semiárido (ASA-CE), ao recuperar a história das cisternas construídas, desde 1919, pelas organizações e agricultoras/es da ASA.

Diante deste desafio climático que descreve Erinaldo, o projeto DAKI – Semiárido Vivo, vem desde 2020, fortalecendo a troca de conhecimentos entre agricultoras/es de três Semiáridos latino-americanos. Durante o 1º Programa de Formação em Agricultura Resiliente ao Clima, ainda no contexto de pandemia, promoveu encontros virtuais, com atividades territoriais.

Neste segundo momento, os intercâmbios presenciais buscam fortalecer os laços entre os semiáridos e impulsionar o desenvolvimento e a adaptação de tecnologias para melhorar a qualidade de vida das populações atingidas pelas mudanças climáticas.

Salvelina Mesquita Silva, do agricultora cearense, participou dos dois programas de formação do DAKI e trouxe para o processo sua experiência com o reúso de águas cinzas, com a construção de cisternas e com a agricultura.

“Foi durante o curso DAKI que aprendi muitas coisas. Com o incentivo de nossa tutora pedagógica, realizamos nossa feira de mulheres na comunidade até hoje. E foi também no DAKI que tive a oportunidade de conhecer outro Semiárido. Participei de um intercâmbio na Argentina. Lá, conheci outras realidades, inclusive lá existem muitas comunidades indígena. E por lá as mulheres são responsáveis pelos projetos”.

Salvelina Mesquita Silva, do agricultora cearense.

Francisco Guedes, professor da UVA – SOBRAL e da Incubadora de Economia Solidária Universidade Vale do Acaraú, durante a mesa de abertura resumiu a tônica do encontro e do trabalho da ASA: “O saber popular é ciência. Precisamos fazer com que a academia compreenda este saber e deixe de dizer que seu saber é o que de fato é ciência”.

O intercâmbio entre agricultores teve uma edição no Chaco argentino, outra no Corredor Seco e outras duas no Semiárido brasileiro: no Sertão de Apodi – Rio Grande do Norte e no Sertão do São Francisco, Bahia.

Nelzilane Oliveira, João Caetano, Lívia Alcântara

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