Comunicação e visibilidade são temas de oficina com jovens dos semiáridos latino-americanos

Em sua quarta edição, a troca de experiências entre jovens tentou responder como a comunicação pode fortalecer a identidade dos jovens em seus territórios. O evento virtual faz parte do 3º Programa de Formação em Agricultura Resiliente ao Clima, com a participação de jovens das três regiões semiáridas contempladas pelo projeto DAKI – Semiárido Vivo.

Nesta última edição de uma série de quatro, buscou-se aprofundar a comunicação como ferramenta de fortalecimento da identidade dos jovens do Semiárido. Para reflexão e trabalho em equipe, participaram diferentes grupos de jovens das três regiões, que comentaram sobre as identidades de suas comunidades e as estratégias de comunicação que utilizam em seus territórios.

Estratégias de visibilidade e processos de diálogo da juventude rural

Entre as estratégias para dar visibilidade às experiências das juventudes nos semiáridos, foram nomeadas: campanhas de visibilidade através da “tomada” das redes sociais, partilha de experiências de sucesso e realização de tutoriais. Dentro dos canais para isso, foram mencionados audiovisuais, podcasts que podem ser transmitidos em rádios comunitárias locais.

Da mesma forma, os e as jovens presentes refletiram sobre a importância de sensibilizar outros jovens para visibilizar as lutas que suas comunidades enfrentam, o reconhecimento de aliados e atores sociais e para organização, que é o eixo central de união para o e os jovens

“A comunicação e a visibilidade são importantes e conseguem-se através de grupos juvenis que permitem a aprendizagem. Essa construção ocorre por meio de nossas ações nas redes sociais e plataformas de comunicação”, comentou Ezequiel Tremembé, jovem brasileiro defensor das comunidades tradicionais.

Jovens do semiárido brasileiro: defensores da identidade de suas comunidades

Para a juventude do Semiárido brasileiro, há uma diversidade de raças, profissões e ocupações dentro da juventude do Semiárido e em suas comunidades, porém a luta por direitos é a mesma: jovens do campo e da cidade, resgatando e valorizando a identidade. 

“Somos filhos de assentados da reforma agrária, somos a resistência, e a associação rural da agricultura e agroecologia. Jovens agricultores, negros, quilombolas e ribeirinhos. Somos a resistência das comunidades rurais com grande diversidade”, disse Jonas Oliveira, representante do sindicato do Piauí no Brasil.

Para a comunidade paraibana, a agricultura orgânica e o resgate de práticas ancestrais que ajudam a cuidar melhor do planeta são aspectos fundamentais de sua identidade como ativistas e produtores orgânicos. “A juventude camponesa marcha e luta pela terra e pela dignidade na construção do projeto popular”, bravou Adailma Ezequiel, integrante do coletivo de jovens da Paraíba.

Da mesma forma, o diálogo é fator fundamental para a troca de conhecimento e ampliação de experiências, que permitem o financiamento de ações e projetos de desenvolvimento. Por meio do diálogo, são mostradas as fortalezas dos municípios e é possível adentrar espaços para decisões políticas; além de motivar os jovens a participarem dos movimentos que são liderados em suas comunidades.

“As redes sociais são uma ferramenta poderosa porque é mais importante mostrar do que falar. Trazer outras realidades como representação dos nossos municípios”, comentou Oliveira.

Jovens de Salta pela defesa comum da terra e da água

Para a juventude de Salta, na Argentina, as diferentes formas de pensamento são fundamentais na luta comum dos territórios. Eles são fundamentais para propor ideias para a defesa da terra; aquela casa comum que todos devemos cuidar.

Para defender os recursos naturais, a juventude de Salta se propõe a capacitar e fortalecer o conhecimento dos jovens por meio de formatos criativos, como obras de arte. Além disso, devem ser levados em conta os direitos que correspondem a cada território, sabendo o que se defende e para quê e quem se defende.

Além disso, foi comentado que o trabalho em equipe é importante na luta pela terra e pela água; porque ajuda a melhorar os processos de ensino-aprendizagem e fortalece as redes. “Lutamos para ter água e terra decentes, que estão sendo perdidas a cada dia.” Por isso, cada casa tem seu jardim e cada casa ensina a plantar. As escolas dão oficinas e viagens ao exterior para intercâmbio cultural”, 

explica Luz, jovem produtora do Chaco Americano. 

A comunicação como estratégia de mudança social. Coletivo Carrapicho – Semiárido Brasileiro

Um grupo de 12 jornalistas baianos fundou uma rede de comunicação ativa que representa sua comunidade: o coletivo de educomunicação Carrapicho. Manuela Conceição, comunicadora do grupo, conta que uma jornalista foi a sua inspiração, desde que começou a trabalhar questões sociais e lutas nas mídias digitais.

“A comunicação nos mostra como nos posicionamos no mundo, os olhares, os sujeitos políticos, socialmente falando na rede, como nos vemos na mídia, como a comunidade é representada”, comentou Conceição.

Para a formação do coletivo, em 2016, um grupo de jovens organizados iniciou um projeto no qual arrecadaram alguns recursos com os quais conseguiram comprar equipamentos.

Para o coletivo Carrapicho, a formação é importante porque permite o envolvimento de toda a comunidade e promove a educação popular. Além disso, o grupo comenta que é ideal que meninos e meninas do campo adquiram aprendizado e retornem ao seu local de origem com a ideia de criar melhorias em sua cidade e se envolver em políticas públicas.

Para valorizar a comunidade, é importante pensar em mensagens educativas para divulgar nas redes sociais que estimulem a comunidade a criar um projeto de vida; que lhes permita criar debates e ter um novo pensamento.

Jovens do Gran Chaco latino-americano na prática da comunicação popular

A rádio ACLO e a Rede Amazônica são duas organizações que conseguiram capacitar a juventude do Chaco no Paraguai, Bolívia e Argentina. O trabalho articulado permite que os jovens aprendam sobre gestão de redes sociais por meio de oficinas e capacitações na área de comunicação. Por meio dessa formação eles podem disseminar conteúdos sobre suas comunidades e mostrar as realidades que atravessam seus territórios.

A ideia de promover a comunicação é criar uma rede de paz que lhes permita empatizar com as necessidades das pessoas e serem mediadores para questões sociais. “Em nossas comunidades, levamos em consideração os problemas dos povos indígenas e apoiamos os jovens em matéria de tecnologia”, disse Nadia López, comunicadora social do Gran Chaco Americano.

A comunicação como estratégia de visibilidade: reflexões da juventude do semiárido

Nas reflexões sobre a comunicação no semiárido, concluiu-se que é importante divulgar ações juvenis positivas, compartilhar experiências e inspirar mais jovens a participarem de movimentos em prol do semiárido.

Além disso, é importante utilizar os canais de comunicação para divulgar e oferecer os produtos que os grupos de agricultores preparam e produzem. Da mesma forma, compartilhar experiências, poemas, músicas e formatos criativos que atraiam a atenção dos leitores.

“A comunicação é importante para ajudar a fortalecer o conhecimento. É importante saber trabalhar em grupo com outras pessoas, outros jovens de nosso país e região”, disse Kely Menjívar, jovem produtor do Corredor Seco Centroamericano.

A comunicação deve ser clara e objetiva, com um propósito específico que determine o motivo pelo qual uma mensagem deve ser realizada e para quem ela deve ser dirigida. Além disso, a comunicação é importante para a sustentabilidade organizacional porque permite que as equipes proponham e relatem.

A partir da gestão da comunicação, os jovens do semiárido representam sua identidade e cultura e podem criar diversos formatos que lhes permitam expressar os pensamentos de luta em suas comunidades.

“A comunicação é um direito e uma ação política. Entendemos que a comunicação é um direito político. Estamos disputando água, terra, território, e a comunicação é o centro dessa disputa. Estamos disputando histórias, racismo, homofobia e mais uma série de preconceitos, construímos isso. As pessoas devem construir suas narrativas com base em suas realidades”, refletiu Luna Silva, uma comunicadora da Articulação do Semiárido brasileiro (ASA)

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