Debate durante Semiárido Show aponta que Biblioteca SAL deve fomentar diálogos sobre a América Latina e combate à desinformação

Publicado por Érica Daiane

Com as mudanças cada dia mais presentes nas rotinas das pessoas quando se trata de construção dos conhecimentos, repensar as estratégias de socialização de informações é algo essencial. A velha pesquisa que era feita em livros a partir de consultas em salas de bibliotecas, nem sempre acessíveis à toda população, hoje pode ser feita na internet com poucos cliques ou palavras digitadas em sites de buscas.

Esse contexto esteve em discussão durante o Semiárido Show 2023, evento que teve início dia 1º e encerra nesta sexta (04) em Petrolina – PE, cuja programação contou com Workshop Biblioteca Semiáridos da América Latina – SAL, uma iniciativa que reúne uma diversidade de produções sobre as regiões semiáridas da América Latina, onde vivem 55 milhões de pessoas.

Na ocasião, o professor Marcelo José Braga, da Universidade Federal de Viçosa apresentou ao público a plataforma, que irá dar visibilidade às várias estratégias e tecnologias desenvolvidas pelos povos dos semiáridos para se adaptarem às mudanças climáticas e conviverem de modo sustentável com seus ambientes. A Biblioteca SAL é resultado de uma parceria interinstitucional, firmada pelo Acordo de Cooperação Técnica, entre a Universidade Federal de Viçosa (UFV), Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e a Plataforma Semiáridos América Latina, através da Fundação para o Desenvolvimento da Justiça e da Paz (Fundapaz) e da Fundação Nacional para o Desenvolvimento (Funde).

Para a representante da Coordenação Executiva da ASA, Glória Araújo, a expectativa é que a biblioteca “procure fortalecer o conhecimento na perspectiva da Convivência com os Semiáridos”, que esteja a serviço dos povos destas regiões. Para ela, o momento foi bastante significativo, inclusive com participação de instituições de pesquisa como a Embrapa, Fundação Joaquim Nabuco, universidades e também do Governo Federal, através do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar.

Esteve na mesa do evento também o representante da Plataforma Semiáridos, Carlos Magno, que pontuou que “conhecimento, assim como a semente, é um elemento de disputa (…). Ter conhecimento sistematizado é poder também”. A fala evidenciou bastante o tom da discussão em torno da importância da Biblioteca SAL para a construção das narrativas sobre os Semiáridos, um elemento central na luta histórica pela quebra de paradigmas que sempre invisibilizaram estas regiões, inclusive até mesmo dos mapas geográficos, como em alguns casos citados.

O bibliotecário da Embrapa, Fábio Cordeiro, também apresentou a experiência da instituição com o acervo digital que reúne resultados de centenas de pesquisas sobre o Semiárido brasileiro, ao tempo em que sinalizou o interesse da instituição em construir a Biblioteca SAL.


Integrante da equipe do Projeto Daki Semiárido Vivo desenvolvido no Semiárido do Brasil, Argentina e El Salvador, Antônio Barbosa, destacou que a Biblioteca SAL deve servir para apontar horizontes e não apenas um repositório de conteúdo. É preciso ser que espaços de diálogos sobre a América Latina, “não pode ser de exclusividade, mas sim de diversidade, para que cada entidade se veja na Biblioteca e permaneça”, que seja um lugar de confluência e aproximação.


Combate à desinformação

Apesar do excesso de informações hoje disponíveis às pessoas, especialmente por meio da internet, a sociedade busca hoje superar o desafio da desinformação. Após a apresentação da Biblioteca, o debate sobre a comunicação como direito e o combate à desinformação foi enxergado como algo que pode ser potencializado a partir da Biblioteca SAL.

A diversidade de conteúdos pode contribuir para revelar uma infinidade de dados e elementos sobre os semiáridos, os quais vem sendo pesquisados e sistematizados, seja pela academia ou pelas organizações sociais, numa perspectiva de valorização tanto da ciência como dos saberes populares existentes.

Para o representante do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), Hardi Vieira, é justamente a diversidade de conhecimentos o diferencial deste instrumento que vem possibilitando conectar projetos do Fida no Semiárido latino americano. Ele entende que “é um esforço de cooperação Sul-Sul que aproxima diferentes parceiros” mas que, mais que isso, possibilita a valorização do conhecimento de quem está na base, como povos tradicionais e agricultores/as. Além disso, a plataforma torna-se fonte de informação sobre estas regiões, algo que já vem sendo visto pelo Fida como referência.

O público presente externou ainda que devido a credibilidade das instituições que fazem parte, o conteúdo irá ajudar a combater notícias falsas (fakes news) sobre os Semiáridos, ao tempo em que ajuda a desconstruir e reconstruir narrativas. Porém, foi ressaltada a necessidade de superar os desafios dos novos formatos e linguagens virtuais, sem prejuízos na qualidade dos conhecimentos produzidos e disponibilizados para o mundo.

Durante Workshop realizado dia 02 de agosto dentro da programação do Semiárido Show, a biblioteca foi apresentada para um público diverso formado por jovens, agricultores/as, ativistas sociais, além de pesquisadores/as e representantes de governos, a exemplo da secretária de Agricultura Familiar e Agroecologia do MDA, Patrícia Vasconcelos. Lançada em junho de 2023, a Biblioteca SAL pode ser acessada pelo endereço: https://bibliotecasemiaridos.ufv.br/.


Semiárido Show

O evento, que é realizado pela Embrapa e está em sua 10ª edição, trouxe como tema “Ciência e tecnologia promovendo o desenvolvimento”. É uma feira de inovação tecnológica voltada para a agricultura familiar do Semiárido brasileiro que reúne agricultores/as, estudantes, técnicos/as, pesquisadores/as, governos e público em geral para conhecer demonstrações de tecnologias, participar de cursos, palestras, seminários, além da Vila da Economia Solidária, espaço organizado pelo Irpaa e pela ASA.


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