Brasil: Solo seco e descoberto passou a abrigar minhocas e fungos e a sustentar uma diversidade de plantas

Clécio Morais, 30 anos, está em pleno processo de transição agroecológica na área equivalente a 1/4 de sua pequena propriedade de cerca de dois hectares que fica na zona rural do município de Altinho, no agreste do estado de Pernambuco.

Pra ser mais precisa, Clécio e sua esposa Ana Alice está bem no início do processo de transformação da sua forma de plantar e manejar o solo, a água e as plantas. Em meados de setembro de 2019, ele conheceu o Centro Sabiá, organização que faz parte da Articulação Semiárido (ASA Brasil) e que passou a prestar assessoria técnica agroecológica para a família de Clécio como ação de uma parceria entre o Sabiá e o Projeto Dom Helder Camara II, vinculado ao Governo Federal, com recursos provenientes do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrário (FIDA), que também financia o Projeto Daki Semiárido Vivo.

A partir desta data começou, Clécio iniciou o seu sistema agroflorestal, numa área que ele insistia em cultivar só hortaliças com resultados desanimadores. Ele conta que, onde tinha a horta, o solo estava meio degradado. Antes, havia sido plantado milho e feijão pelos avós, que mantinham a terra sempre descoberta. Após iniciar o manejo agroflorestal, Clécio já percebeu uma mudança grande no solo, que passou a receber uma cobertura do mato podado. Assim, a água não evaporava da mesma forma que antes. A partir de então, pouca água passava a ser suficiente para molhar a terra, que ficava úmida por mais tempo. Um comportamento ideal para uma região seca, sem fontes perenes de água e com chuvas concentradas em épocas do ano.

Só com estas medidas simples, Clécio passou a notar grandes mudanças na vida do solo que passou a abrigar minhocas e fungos. “Vi muita diferença no crescimento das plantas. Acho que é por conta da diversidade de plantios e da umidade do solo coberto”, afirmou ele. Na área em transição agroecológica, há plantas como a moringa, gliricídia, castanhola, ipês e azeitona roxa. Estas três últimas são espécies nativas.

Também há uma variedade grande de fruteiras como goiaba, acerola, pera, pinha, jambo, banana, coqueiro e cana-de-açúcar. Além de plantas para a alimentação dos animais como a palma forrageira e o mandacaru sem espinho. No espaço de cinco metros entre os leirões, Clécio e família plantaram verduras, legumes, feijão, milho, abobrinha e umas plantas medicinais como o alecrim, manjericão, capim limão e arruda, que têm a função de espantar insetos pelo cheiro que exalam, além de serem plantas com propriedades medicinais.
Para molhar a terra, foi feito um sistema de gotejamento que economiza, segundo Clécio, 70% de água em comparação ao método como ele aguava antes as plantas. O líquido é bombeado do riacho Guaraciaba que passa dentro da propriedade a uns 60 ou 70 metros desta área.

Com a produção diversificada e um maior rendimento, a família aumentou os produtos que vende. Antes sua venda era centrada nas hortaliças. De uns tempos para cá, começaram a comercializar também cana-de-açúcar, acerola, sementes de feijão de porco – excelente adubadeira do solo, rica em nitrogênio – sementes de moringa, além do alface, coentro e cebolinha, que já vendia antes.

Diante dos resultados rápidos e promissores, Clécio tem planos de aumentar em cerca de 800 metros quadrados a área da agrofloresta. “Tem outras áreas da propriedade que estão precisando ser reflorestadas”, diz ele. “Mas, como todo projeto envolve custo, estou esperando uma oportunidade, uma parceria para aumentar a minha área”, prossegue acrescentando que para transformar 0,5 hectares em agrofloresta foi necessário apenas R$ 500, um investimento feito pelo Centro Sabiá.

Além deste aporte, o jovem Clécio também investiu R$ 1,5 mil que acessou no Fundo Rotativo Solidário. É um empréstimo que será devolvido ao Fundo em 3 parcelas a cada 6 meses. Com este recurso, o agricultor adquiriu a motobomba para puxar a água do riacho e estruturou uma área coberta para a produção de mudas e hortaliças em ambiente protegido.

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